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Religião

Verdades opostas

VERDADES OPOSTAS

“O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”.

Rousseau

 

“O homem é mau por natureza, a menos que ele precise ser bom”.

Maquiavel

 

“O ser é criado neutro, mas ao longo da sua trajetória reencarnatória e sob a influência de valores anteriores, do meio cultural, desafios, dor e alegria vai moldando seu comportamento e se transformando no que quer ser”. Wedderhoff, PH

Qual é a causa-raiz da corrupção?

Pergunta inicial de Rubens C. Lamel:

Qual é a causa-raiz da corrupção?

1. A expectativa ou a certeza da impunidade?

2. A reeleição, que admite número ilimitado de mandatos e permite o “domínio” das câmaras, assembleias e Congresso por esses “veteranos”?

3. A degeneração moral da humanidade?
4. …

 

Caro Rubens,
Agradeço a oportunidade da pergunta e arrisco dizer que a causa é a lenta evolução moral da humanidade, porém esta causa é também efeito de outra causa maior, a qual peço licença para expor no texto abaixo:

 

A CAUSA DAS CAUSAS

Como não se sensibilizar profundamente pela enorme perda de vidas e pela ausência de qualidade de vida geradas pela falta de instrução, desemprego, fome, violência e doenças evitáveis?

Diante deste “vale de lágrimas” que é a Terra, não consigo evitar de pensar na causa das causas de tanta angústia.

Pela vista do meu ponto, a causa das causas é a falta de autoconhecimento e do entendimento por parte das pessoas, sobre a origem e o destino do ser do ser humano, portanto da alma ou do espírito e sobre o sentido e o significado da vida, da dor e da morte.

Se todos soubessem que somos espíritos imortais sujeitos ao inevitável aprendizado contínuo, quer no meio material, quer no espiritual, talvez isso mudasse a cosmovisão de alguns e gradualmente se espalhasse de modo a influenciar o comportamento humano.

A imortalidade do espírito combinada com as evidentes diferenças de comportamento só pode ser efeito de duas causas;

1- Deus nos criou diferentes; uns melhores e outros piores, ou

2- Deus nos criou todos igualmente simples e ignorantes, mas inteligentes e livres.

A primeira opção implica que a obra de Deus seja imperfeita, o que é ilógico.  

A segunda implica que cada ser se torna aquilo que consegue, ao longo da sua trajetória evolutiva e onde a mudança ocorre como efeito do exercício do livre-arbítrio, equilibrado pelas consequências garantidas pela lei natural de causas e efeitos.

Se assim for, podemos depreender que após um período de aprendizado e de aplicação do conhecimento na Terra, virá a inevitável morte do corpo, seguida de um período igualmente longo de auto-avaliação, aprendizado e aplicação do conhecimento no meio espiritual.

Como é impossível alcançar um grau de aperfeiçoamento em uma única experiência material, ao voltar ao meio espiritual, ou teremos uma punição eterna ou um livramento eterno, sendo que ambos seriam de mérito questionável, pois o livramento impediria que cada um enfrentasse as consequências dos males que gerou e a punição eterna implicaria em um Deus punitivo e implacável.

A terceira via seria que a mesma inevitabilidade da morte seria seguida da inevitabilidade de uma nova encarnação, onde o espírito enriquecido pela nova experiência no meio espiritual voltaria ao meio material, desprovido das memórias do passado, para exercitar os novos valores morais que incorporou ao seu caráter.

Pela observação do comportamento humano, poderíamos deduzir que alguns conseguem manter razoável coerência entre seu pensar, falar e agir e outros tem mais dificuldade. Com o tempo e com a ajuda da alegria dos efeitos das boas ações e a dor gerada pelas más ações, cada ser melhora na velocidade que consegue. Evidentemente a educação e a instrução disponível no meio material, pode influenciar positiva ou negativamente a transformação de cada ser.

Em um paralelo simplista, a evolução espiritual seria semelhante à evolução do organismo físico já demonstrada pela ciência através dos fósseis pré-humanos com milhões de anos.

Se admitirmos que a morte é uma lei contra a qual não cabe recurso e que o mesmo princípio se aplica ao retorno ao meio material, é de se esperar que, ao alcançar a lógica destas leis, pelo menos por egoísmo, cada ser tente ajudar a melhorar a sociedade onde vive, pois afinal ninguém sabe em que meio social, político e econômico irá voltar.
Paulo H. Wedderhoff

 

Paulo,

Enquanto esperamos a lenta evolução moral da humanidade, será que as causas mais imediatas da corrupção, sobre as quais podemos atuar mais diretamente, indicadas nos itens 1 e 2 da enquete, não deveriam ser objeto de ações permanentes, concretas, coordenadas e eficazes para, pelo menos mitigá-la? (A corrupção jamais será eliminada; pelo menos não antes de uns 100 mil anos)

A corrupção, como você bem colocou, está na raiz da “perda de vidas e pela ausência de qualidade de vida geradas pela falta de instrução, desemprego, fome, violência e doenças evitáveis” e acho que não podemos esperar pela evolução. Fico com a frustrante sensação de que a pandemia tenha revelado que a operação Lava Jato não conseguiu “educar” ninguém! Mesmo assim, continua a ter todo o meu apoio.

Na linha de “fazer algo concreto”, além da PEC da segunda instância e da eliminação do foro privilegiado, deveríamos pensar em mais uma causa à qual nos alinharmos, como IDL: converter a corrupção em crime hediondo, sem possibilidade de progressão de pena, leniência, liberdade provisória, prisão domiciliar ou tornozeleira eletrônica, sendo a pena acrescida de 50% para o agente público! Claro que para isso será necessário desmontar a atuação policialesca do estado sobre as atividades empresariais. Afinal, o cipoal de leis, normas, regulamentos, etc., é terreno fértil para desvios de conduta de ambas as partes. (IDL – www.idl.org.br)

Rubens C. Lamel


Antes do seu texto você afirma que a causa-raiz da corrupção seria “A lentidão da evolução moral da humanidade”. Isso faz supor que o Creador pudesse ter errado ao desenhar o “processo de evolução moral”, tendo embutido nele esse ritmo glacial! Afinal, nesse ritmo, e imaginando que “espíritos novos, todos igualmente simples e ignorantes, mas inteligentes e livres, continuam a ser criados, isso jamais acabará! Esse Creador é sádico, pois seu processo perpetua a tragédia ad infinitum! Não posso crer na existência de um Creador desses e por isso, não posso em sã consciência, admitir a hipótese (tese fraca) da reencarnação, sugerida na sua frase “inevitabilidade de uma nova encarnação”.

Rubens C. Lamel

 

Caro Rubens,
Sendo Deus perfeito em seus atributos, seria incoerente admitir erro em sua obra. Algum erro eventual portanto, só pode estar em nossas interpretações da realidade.
Deus poderia criar seres perfeitos e prontos ou seres neutros, portanto aperfeiçoáveis.
A realidade demonstra que somos imperfeitos, portanto não cabe dúvida de que fomos criados simples, ignorantes, livres e inteligentes.

Se a velocidade da evolução fosse determinada por Deus, não seria equivalente a reduzir a liberdade e com isso também a responsabilidade? Não te parece que a mudança de dentro para fora seria mais eficaz e geraria mais mérito?
Afinal, se Deus quisesse criar seres perfeitos, seríamos todos bons de "fábrica". Se Ele nos fez aperfeiçoáveis, isto me parece mais coerente com liberdade e responsabilidade.

Tudo a ver com um design inteligente.

A teoria das chamas eternas me parece mais dura do que um processo de auto aperfeiçoamento.

Afinal a realidade da maldade humana é inegável e creditá-la a um "sadismo" divino seria o mesmo que transferir a responsabilidade do mau uso da nossa liberdade para quem nos criou livres para errar ou acertar e aprender com os efeitos?

Se assim não for, imagino que seja ainda mais genial.
Paulo H. Wedderhoff

 

Adiciono uma outra causa raiz:
4. Falta de Educação
Faruk El –Katib - (Autor do excelente livro “De porta em porta à Nova York)

 

De acordo Faruk!

Muitos dos nossos representantes políticos mais corruptos se graduaram nas melhores universidades, mas não tiveram acesso à educação moral. (Moral pode ser entendida como a valorização e proteção da vida e da qualidade da vida).

Entender a mecânica da vida e que não há perdão nem punição, apenas consequências inescapáveis é a principal educação que tem faltado em alguns lares, escolas e igrejas.

Paulo H. Wedderhoff

 

A educação não necessariamente, melhora o nível moral da pessoa. O sem educação rouba os fios de cobre da rede elétrica. O educado rouba a companhia de energia. Como então, ensinar ética e moral em uma sociedade onde tudo está relativizado, onde afirma-se com absoluta certeza, que “não existe verdade absoluta”?

Rubens C. Lamel

 

Caro Rubens,

Assim como há, no mundo da política, uma guerra fria entre os regimes autoritários e democráticos, há no mundo religioso, uma guerra fria entre duas crenças:
- Encarnarmos uma única vez ou reencarnamos enquanto houver o que aprender ou ensinar?
Os regimes políticos autoritários tem por objetivo criar um povo fraco dependente de um Estado forte. Os beneficiados são os poucos que apoiam o regime porque tem a esperança de ficar do lado quem manda.

Parte das pessoas já sabem que neste tipo de regime político o resultado é a perda da liberdade, da qualidade de vida e até da própria vida. Um grande número. Contudo, segue iludido.
Por seu lado, alguns regimes religiosos tradicionais, tem por objetivo criar uma dependência semelhante em relação às autoridades religiosas. Além disso buscam motivar as pessoas a sustentar suas estruturas de poder por meio de contribuições financeiras como o dízimo. Muitos se declaram como representantes exclusivos de Deus na Terra, e o medo do que ocorre após a morte motiva muitos a comprar a esperança de um “seguro espiritual”.
O poder político influencia o comportamento do ser material e o poder religioso influencia o comportamento do ser espiritual.

Ao tomar consciência de que a reencarnação é uma lei natural, inerente ao processo evolutivo, o ser encarnado se descobre autor de seu próprio destino e pode concluir que sem mudança de comportamento não haverá evolução e sem evolução, estará sujeito a voltar ao meio material onde alguns efeitos negativos da sua semeadura no passado poderão ainda estar presentes.
De posse deste entendimento, o ser pode deixar de transferir a responsabilidade do seu destino a tutores religiosos, assumir que é o único responsável por si mesmo e passar a decidir seus passos com a consciência das consequências decorrentes da lei de causas e efeitos.

Trecho do diálogo entre O Crente e o Cético.

 

RCL: Trocando de assunto. Na hipótese, muito improvável, de que a reencarnação seja fato, em que momento se daria a entrada do espírito no ser humano?

 

PHW: “Desde o momento da concepção, o espírito se liga ao embrião e vai se fixando até o instante em que a criança vem à luz; o grito que então escapa de seus lábios anuncia que a criança entrou para o número dos encarnados.”

(Resumo da resposta 344 do Livro dos Espíritos)

 

Na hipótese de que a reencarnação não seja um fato, por que Deus imporia a espíritos "recém-criados", toda sorte de sofrimentos em uma encarnação única e que invariavelmente transcorre sob constante risco de vida e termina com morte e sofrimento para pais, filhos, cônjuges e amigos? E mais! Segundo a teoria tradicional, após a morte, alguns recebem a vida eterna, pois mesmo sem obras e mérito tinham fé. Enquanto isso alguns desaparecem em uma segunda morte chamada morte espiritual e outros vão arder em chamas eternas atiçadas por seres malignos que, imunes às chamas vivem da felicidade de torturar para sempre alguns bilhões de filhos deste mesmo Deus? Será isto apenas um mito para educar adultos difíceis ou Deus é mesmo cruel?

 

RCL: Você segue pensando nas velhas premissas católicas e evangélicas sobre céu e inferno, vida eterna, etc. A verdade é muito diferente disso. Pelo menos a verdade na qual eu acredito.

 

PHW: Que bom. Te parabenizo por ter conseguido se livrar de alguns dogmas religiosos tradicionais. Ocorre que algumas das premissas como a encarnação única fazem parte daquele sistema de ideias. Por isso repito a pergunta: se só pode haver uma encarnação, não seria melhor que não houvesse nenhuma?

 

RCL: E quem nos garante que não existam seres que não passam por encarnações, como a nossa?

 

PHW: Ninguém, mas convenhamos que obrigar alguns filhos a evoluir penosamente durante uma encarnação, ou várias, e dispensar outros filhos deste desafio te parece coerente com a justiça de Deus?

 

RCL: Outra coisa: quem nos garante que esta não seja apenas a primeira de uma série de etapas evolutivas, as demais vividas em outros níveis, não sendo necessário voltar para a esfera material?

 

PHW: Ninguém, mas neste caso pouparia muito sofrimento deixando todas as etapas ocorrerem do "lado de lá". Imagine a economia de mortes, poluição, sofrimento, assassinatos, tsunamis, etc. Me parece um sonho interessante. Pode ser que este seja o plano para quem passa no “vestibular” da evolução moral e não precisa mais voltar ao meio material. Isto me leva a pensar que o Cristo possa ter vindo por convite, ou seja, como missionário voluntário. Combinaria bem com sua enorme competência, desprendimento e amor ao próximo.

 

RCL: Todos são “obrigados” a evoluir. Não necessariamente neste plano, via repetidas encarnações. Talvez o Creador tenha tido razões perfeitamente lógicas para fazer que o processo fosse dessa maneira. Temos que perguntar a Ele.

 

PHW: Boa! Seria interessante se ele tivesse um e-mail! Só que me parece que os "anjos" levariam a mesma vantagem de quem nasce em “berço de ouro”. Pode ser parte do plano, mas me soa injusto.

 

RCL: Não sabemos como é, de fato, a natureza dos anjos (e demônios?) e como se dá o relacionamento deles com Deus. Especula-se bastante, formulam-se teorias e teologias mas, a rigor, é tudo especulação. Mesmo que revestida de alguma lógica hermenêutica.

 

PHW: Tem razão! O referencial lógico dos redatores de 6000 anos atrás eram os Reis poderosos e impiedosos e sua corte. Se fôssemos criar uma teogonia do zero, assim como nossos ancestrais tiveram que fazer, teria sentido usar os referenciais que eles usaram?

(teogonia: narração do nascimento dos deuses e apresentação da sua genealogia)

O que é Religião?

Deduzindo a validade de um conceito

Que resposta você acha que receberíamos de algum reconhecido filósofo se lhe fizéssemos a pergunta abaixo?

- O senhor poderia me explicar qual é a origem e o destino do ser do ser humano, portanto do espírito e o sentido e o significado da vida, da dor e da morte?

 

Penso que um verdadeiro filósofo provavelmente diria:

- Lamento, mas ainda não sei. Busco estas respostas há muitos anos. Se você descobrí-las, por favor me conte.

 

E se repetíssemos a mesma pergunta para um reconhecido cientista? O que ele nos responderia?

Possivelmente diria o seguinte:

- A ciência ainda não sabe. São questões altamente complexas. Teremos que ter paciência e aguardar.

 

Suponha que por fim façamos a mesma pergunta para algum líder religioso. O que você acha que ouviríamos como resposta?

Possivelmente ouviríamos o seguinte:

- Você tem um tempo?

- Sim! Certamente diríamos.

- Então sente aí que eu te conto!

 

Faz sentido, não é? Afinal muitos líderes religiosos passam a impressão de saber as respostas para a nossa pergunta.

Agora suponha que depois de ouvir o primeiro líder religioso, insatisfeitos com as respostas, busquemos um líder de uma outra religião para ver se as respostas coincidem e este segundo líder nos dê respostas bem diferentes das respostas do primeiro.

- O que teremos então?

- Dois conjuntos de verdades, só que opostas! Ou seja, cada um dirá o que acredita ser a verdade, porém um poderá dizer que a vida é uma só e que só se nasce e morre uma vez. O outro poderá dizer que a vida espiritual é realmente uma só, pois somos espíritos imortais, porém para evoluir é necessário passar por muitas experiências encarnatórias.

 

Tal dilema poderá nos ajudar a deduzir o seguinte conceito:

- “Religião é o conjunto de respostas que cada grupo cultural desenvolve para responder qual é origem e o destino do ser do ser humano, portanto do espírito, bem como o sentido e o significado da vida da dor e da morte”.
Isto explica a diversidade de explicações e dogmas religiosos cultuados pelos diversos povos.

Qual é o melhor caminho a seguir?

Texto de autoria de Nelson Wedderhoff

 

Cada um de nós se dedica a diferentes atividades ao longo da vida. Escolhemos profissões, relacionamentos, ações sociais diversas, sonhos que buscamos tornar realidade. Em todas essas ocupações, quem decide o que será melhor fazer, todos os dias e a cada momento? Quem decide qual será o próximo passo?

 

Talvez por estarmos acostumados a viver dentro de rotinas, a fazer inúmeras coisas todos os dias, deixamos de observar detalhes que são muito importantes. Um deles é: cada um de nós está decidindo sobre o seu próprio futuro a cada instante,
sempre. Muitas vezes podemos achar que não, pois ainda é costume atribuir a agentes externos, a terceiros, às pressões sociais ou a compromissos previamente assumidos, o fato de nos mantermos em uma determinada direção ou situação, mesmo
quando ela não representa o que queremos, o que consideramos importante, prioritário, correto.

 

Podemos também estar ignorando que foi a somatória de nossas escolhas que nos trouxe até onde estamos. Se hoje temos compromissos, fomos nós que os assumimos no passado. Cada um de nós escolheu suas relações, suas atividades profissionais, os
ambientes sociais que frequentou. Cada um de nós também escolhe onde investirá o seu tempo, o capital financeiro que eventualmente tenha acumulado, o conhecimento e a experiência que adquiriu com o passar dos anos. Escolhemos tudo em nossas vidas. Se existem pressões sociais, costumes, modelos a serem seguidos, também é fato que nós ajudamos a criá-los; ou pelo menos a mantê-los, na medida em que os aceitamos e nos submetemos a eles.

A escolha final sempre será de cada um

É importante ter a consciência de que estamos sempre aceitando, concordando previamente com o que viermos a fazer, e com tudo o que resultar de nossas ações, seja quando adotamos uma sugestão que nos foi dada por estarmos em dúvida em uma
determinada situação, seja quando acolhemos modelos propostos pela sociedade, ou ainda quando seguimos idéias originalmente nossas. Com isso, em última instância, o próximo passo sempre será uma escolha de cada um, e não de terceiros. Mesmo quando nos deparamos com opções de escolha limitadas, vale lembrar que foram nossas ações que nos trouxeram até aqui. Somos os responsáveis pela situação atual.

 

Um exemplo bastante prático de limitação que nos auto-impomos diz respeito à administração financeira pessoal. Imagine alguém que não pode arriscar uma mudança de atividade profissional por ter sua renda mensal muito comprometida. Em seu best seller “Pai Rico Pai Pobre”, o autor Robert T. Kiyosaki chama atenção para este tipo de comportamento. Muitas pessoas se colocam como escravas de si mesmas quando comprometem uma parcela significativa de sua renda com dívidas, de tal forma que acabam por ficar impedidas de fazer mudanças que possam colocar em risco sua receita financeira. Por vezes tais mudanças até poderiam trazer mais qualidade de vida, permitir mais tempo para estar com a família, ou ainda ser um passo importante para uma carreira mais promissora no médio prazo. Porém, as dívidas que foram contraídas impedem a mudança, pois não se pode colocar em risco a suposta estabilidade proporcionada pela atual receita mensal. Neste exemplo que envolve a vida financeira
devemos notar que, se as dívidas fossem menores, haveria mais liberdade para arriscar seguir por caminhos diferentes caso surgissem oportunidades.

 

Outro exemplo de escolha que determina mudanças no curto, médio e longo prazos é a opção por ter (ou não) filhos, sejam biológicos ou adotivos, aceitando opiniões de terceiros ou não. Eventuais preocupações durante a adolescência, ou todas as alegrias que os filhos podem trazer, somente existem porque em algum momento do passado houve a opção por ter filhos.

As ações devem refletir os projetos pessoais

E se as escolhas são assim tão importantes, por que não perguntar: quanto das ideias e princípios que orientam os nossos passos são originalmente nossos? Em outras palavras, estamos fazendo o que realmente acreditamos que deve ser feito? Ou, justamente por desconhecermos o que queremos realizar, acabamos seguindo na direção do que outras pessoas consideram importante?
 

O estilo de vida que temos, a profissão que seguimos, os bens que buscamos, estão de acordo com nossos valores morais e objetivos pessoais? Ou apenas atendem aos costumes do momento, que muitas vezes seguimos para nos sentirmos como parte integrante de um grupo?

Certamente as sugestões de outras pessoas, seus exemplos, as inspirações que elas nos trazem são muito importantes e úteis, e devemos aproveitá-las. Mas para que façamos uso positivo de todas essas informações que vem do mundo que existe fora de
nós, precisamos saber mais a respeito do que existe dentro de cada um de nós. É necessário conhecer mais sobre quem somos, e isso significa saber o que nos é importante, o que deve ser feito na nossa visão, o que é certo e o que é errado ao nossos olhos.

 

Vejamos este exemplo: imagine uma pessoa que sonha montar um negócio próprio. Uma das prioridades seria guardar recursos financeiros para os investimentos que serão necessários. Além disso, dedicar tempo aos estudos preparatórios antes de começar
a empreender. Sabendo disso, se surgisse um convite para utilizar as economias em uma viagem ou na troca de um automóvel, a pessoa deste exemplo provavelmente recusaria, pois a prioridade seria preservar os recursos para o futuro empreendimento. Mas quando não se conhece os objetivos de médio e longo prazos, não existem ações no sentido de compor as bases para que tais objetivos sejam, em algum momento, alcançados. Neste exemplo, o desconhecimento dos projetos pessoais poderia determinar a inexistência das economias necessárias ao empreendimento, pois os recursos teriam sido usados para outras finalidades.

Vale lembrar novamente que a palavra final nas decisões sempre será de cada pessoa, e quanto mais cada um souber o que realmente deseja fazer e viver, mais coerentemente com esses propósitos as escolhas serão feitas.

O melhor caminho para cada pessoa é...

Quero chamar a atenção ao seguinte fato: na minha visão, o melhor caminho para uma pessoa seguir será sempre o seu próprio caminho. E também afirmar que este caminho está descrito nas convicções que cada pessoa tem, nos seus valores pessoais, nos seus objetivos, nas coisas que realmente importam a cada um. Isso não significa desconsiderar o que os exemplos e inspirações vindos de terceiros possam trazer de bom para esta jornada de autoconhecimento e realização.
 

Tudo o que você já descobriu, ou que ainda vai descobrir a seu próprio respeito, certamente tem relação com ser uma pessoa útil, boa e realizadora. Entretanto, se não conhecemos o que realmente desejamos deixar como legado ao longo de nossas
vidas, há o risco de aceitarmos sugestões ou seguirmos inspirações que possuem muito pouca relação com o que queremos intimamente. Estaremos seguindo direções que
aceitamos por livre e espontânea vontade, mas que não representam nossas mais puras convicções.

O melhor caminho para mim é o meu, e para você é o seu. Os melhores passos que uma pessoa pode dar estão na direção dos seus sonhos, das suas convicções, do que ela julga correto, necessário, importante e útil.
 

Porém é importante alertar que muitas vezes a direção que desejamos seguir pode conter muitos desafios, dando a impressão que outras alternativas mais fáceis pareçam mais adequadas. Por isso é necessário manter-se atento para não se iludir com
facilidades; viver suas próprias convicções significa escolher a coragem de descobrir-se e superar-se, preservando a ética e a responsabilidade para com as demais pessoas e o meio. Este é certamente um caminho de muito trabalho, mas de grandes
recompensas.
Cada um de nós tem seus próprios projetos, sonhos e convicções.
Você está seguindo o seu caminho?

ERRO E PUNIÇÃO

José Pio Martins
Economista

Dia desses, uma rádio me perguntou se eu era a favor ou contra a pena de morte. Recuseime a responder. Assim o fiz, porque o entrevistador me dera 30 segundos para a justificativa. Disselhe que eu só daria minha opinião se me fosse permitido argumentar mais demoradamente. Ante à recusa, propus enviar-lhe, por escrito, um texto que embasasse o que penso a respeito. Enviei-lhe o texto a seguir transcrito, que é uma lição humanista.

Jesus havia terminado uma de suas pregações na praça pública, quando percebeu que a multidão se movimentava em alvoroço. Alguns populares mais exaltados prorrompiam em gritos, enquanto uma mulher ofegante, cabelos desgrenhados e faces macilentas, se aproximava dele, com uma súplica de proteção a lhe sair dos olhos tristes. Os muitos judeus ali aglomerados excitavam o ânimo geral, reclamando o apedrejamento da pecadora, na conformidade das antigas tradições.

 

Solicitado, então, a se constituir juiz dos costumes do povo, o Mestre exclamou com serenidade e desassombro, causando estupefação aos que o ouviram:

 

— Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra!

 

Por toda a assembléia se fez sentir uma surpresa inquietante. As acusações morreram nos lábios mais exaltados. A multidão ensimesmava-se, para compreender sua própria situação. Enquanto isso, o Mestre pôs-se a escrever no solo despreocupadamente.

 

Aos poucos, o local ficara quase deserto. Apenas Jesus e alguns discípulos lá se conservavam, tendo ao lado a mulher a ocultar as faces com as mãos.

Em dado instante, o Mestre Divino ergueu a fronte e perguntou à infeliz:

 

— Mulher, onde estão teus juízes?

 

Observando que a pecadora lhe respondia apenas com o olhar reconhecido, onde as lágrimas aljofravam num misto de agradecimento e alegria, Jesus continuou:

 

— Ninguém te condenou? Também eu não te condeno. Vá, e não peques mais.

A infeliz criatura retirou-se, experimentando uma sensação nova no espírito. A generosidade do Messias lhe iluminava o coração, em claridades vivas que lhe banhavam a alma toda. Mas, enquanto a pecadora se retirava, presa de intensa alegria, os poucos discípulos que se encontravam junto ao Senhor não conseguiram ocultar a estranheza que lhes causara seu gesto. Por que não condenara ele aquela mulher de vida censurável aos olhos de todos? Não se tratava de uma adúltera? Nesse ínterim, João se aproximou e interrogou:

— Mestre, por que não condenaste a meretriz de vida infame?

 

Jesus fixou no discípulo o olhar calmo e bondoso e redarguiu:

 

— Quais as razões que aduzes em favor dessa condenação? Sabes o motivo por que essa pobre mulher se prostituiu? Terás sofrido alguma vez a dureza das vicissitudes que ela atravessou em sua vida? Tu ignoras o vulto das necessidades e das tentações que a fizeram sucumbir a meio do caminho. Não sabes quantas vezes tem sido ela objeto do escárnio dos pais, dos filhos e dos irmãos das mulheres mais felizes. Não seria justo agravar-lhe os padecimentos infernais da consciência pesarosa e sem rumo.

 

— Entretanto — exclamou João, defendendo os princípios da lei antiga —, ela pecou e fez jus à punição. Não está escrito que os homens pagarão, ceitil por ceitil, seus próprios erros?

 

O Mestre sorriu e sem se perturbar esclareceu:

 

— Ninguém pode contestar que ela tenha pecado; quem estará irrepreensível na face da Terra? Há sacerdotes da lei, magistrados e filósofos que prostituíram suas almas por mais baixo preço; contudo, ainda não lhes vi os acusadores. A hipocrisia costuma campear impune, enquanto se atiram pedras ao sofrimento. João, o mundo está cheio de túmulos caiados. Deus, porém, é o pai de bondade infinita que aguarda os filhos pródigos em sua casa. Poder-se-ia desejar para a pecadora humilde tormento maior do que aquele a que ela própria se condenou por tempo indeterminado? Quantas vezes lhe tem faltado pão à boca faminta ou a manifestação de um carinho sincero à alma angustiada? Raras dores no mundo serão idênticas às agonias de suas noites silenciosas e tristes. Esse é seu doloroso inferno, sua aflitiva condenação. É que, em todos os planos da vida, o instituto da justiça divina funciona, naturalmente, com seus princípios de compensação.

 

Cada ser traz consigo a fagulha sagrada do Criador e erige, dentro de si, o santuário de sua presença ou muralha sombria da negação; mas, só a luz e o bem são eternos e, um dia, todos os redutos do mal cairão, para que Deus resplandeça no espírito de seus filhos. Não é para ensinar outra coisa que está escrito na lei — “Vós sois deuses!” Porventura, não sabes que a herança de um pai se divide entre os filhos em partes iguais? As criaturas transviadas são as que não souberam entrar na posse de seu quinhão divino, permutando-o pela satisfação de seus caprichos no desregramento ou no abuso, na egolatria ou no crime, pagando alto preço pelas suas decisões voluntárias. Examinada a situação por esse prisma, temos de reconhecer no mundo uma vasta escola de regeneração, onde todas as criaturas se reabilitam da traição a seus próprios deveres. A Terra, portanto, pode ser tida como um grande hospital, onde o pecado é a doença de todos; o Evangelho, no entanto, traz ao homem enfermo o remédio eficaz, para que todas as estradas se transformem em suave caminho de redenção.

É por isso que não condeno o pecador para afastar o pecado e, em todas as situações, prefiro acreditar sempre no bem. Quando observares, João, os seres mais tristes e miseráveis, arrastando-se numa noite pejada de sombra e desolação, lembra-te da semente grosseira que encerra um gérmen divino e que um dia se elevará do seio da terra para o beijo de luz do Sol.

 

Terminada a explicação do Mestre, o filho de Zebedeu, deixando transparecer na luz do olhar sua profunda admiração, pôs-se a meditar nos ensinamentos recebidos.

Muito tempo ainda não transcorrera depois desse acontecimento, quando Jesus subiu da Cafarnaum para Jerusalém, acompanhado por alguns de seus discípulos. Celebravam-se festas tradicionais entre os judeus. O Mestre chegou num sábado, sob a fiscalização severa dos espíritos rigoristas de sua época. Não foram poucos os paralíticos que o cercaram, ansiosos pelo benefício de sua virtude salvadora. Escandalizando os fanáticos, o Mestre curava e consolava, em sua jornada de gloriosa redenção. Vendo tantos cegos e aleijados aglomerados à passagem, Tiago o interpelou:

 

— Mestre, sendo Deus tão misericordioso, por que pune seus filhos com defeitos e moléstias tão horríveis?

 

— Acreditas, Tiago — respondeu Jesus —, que Deus desça de sua sabedoria e de seu amor para punir seus próprios filhos? O Pai tem seu plano determinado com respeito à criação inteira; mas, dentro desse plano, a cada criatura cabe uma parte na edificação, pela qual terá de responder. Abandonando o trabalho divino, para viver ao sabor dos caprichos próprios, a alma cria para si a situação correspondente, trabalhando para reintegrar-se no plano divino, depois de se haver deixado levar pelas sugestões funestas, contrárias a sua própria paz.

 

João compreendeu que a Palavra do Messias era a confirmação dos ensinamentos que já ouvira de seus lábios, na tarde em que a multidão exigia o apedrejamento da pecadora.

 

Afastaram-se, em seguida, do Tanque de Betsaida, cujas águas eram tidas, em Jerusalém, na conta de miraculosas e onde o Mestre fizera andar paralíticos, dera vista a cegos e limpara leprosos. Na companhia de Tiago e João, o Senhor encaminhou-se para o templo, onde um dos paralíticos que ele havia curado relatava o acontecido, cheio de sincera alegria. Jesus aproximou-se dele e, deixando entrever a seus discípulos que desejava confirmar os ensinamentos sobre pecado e punição, falou-lhe abertamente, como se lê no texto evangélico de João: — “Eis que estás são. Não peques mais, para que te não suceda coisa pior”.

 

Desde que esses ensinos foram dados, novas idéias de fraternidade povoaram o mundo, com respeito aos transviados, aos criminosos e aos inimigos, atingindo a própria organização política dos Estados.

O Império Romano vulgarizara os mais nefandos processos de regeneração ou de vingança. Escravos ignorantes eram pasto das feras, nos divertimentos públicos, pelas faltas mais insignificantes nas casas dos patrícios. Só de uma vez, trinta mil desses servos, a quem se negava qualquer bem do espírito, foram crucificados numa festa, próximo aos soberbos aquedutos da Via Ápia. Os açoites humilhantes eram castigo suave.

Entretanto, desde a tarde em que Jesus se encontrou com a pecadora em frente da multidão, um pensamento novo entrou a dominar aos poucos o espírito do mundo. A substância evangélica do ensino inolvidável penetrou o aparelho judiciário de todos os povos. A sociedade começou a compreender suas obrigações e procurou segregar o criminoso, como se isola um doente, buscando auxiliar-lhe a reforma definitiva, por todos os meios a seu alcance. Os menores delinquentes foram amparados pelas numerosas escolas de regeneração. Todo o sistema da justiça humana evolveu para os princípios da magnanimidade, e os juízes modernos, lavrando suas sentenças, sem nunca haverem manuseado o novo testamento, talvez ignorem que procedem assim por ter sido Jesus o grande reformador da criminologia.

A pena de morte não é justiça. É vingança. Com ela, comete-se um crime para punir um crime igual. Ou não se constitui crime matar um pecador? Se assim for, quem define qual o pecado deve ser punido com a pena de morte? Antes de Jesus Cristo, no Império Romano, os escravos eram mortos de todas as formas. Enforcados, degolados, lançados aos leões famintos para divertimento do público. E tudo isso simplesmente porque alguém, em algum momento do passado, entendera que os escravos não eram possuidores de alma. Matavam-nos como se matam animais: por pura diversão.

 

Sob princípios de justiça não há argumento aceitável para a pena de morte. Agora, se o que a humanidade deseja é fazer uma “limpeza”, tirando a vida daqueles julgados indignos de viver em sociedade, corremos o risco de voltar ao passado e começar a matança de todos os criminosos. E isso será o primeiro passo para, sob mesmo princípio, retomarmos a ideia de liquidar os idosos, os inválidos, os doentes terminais, porque sob certo tipo de racionalidade eles também são um empecilho à sociedade.

Jesus Cristo, sozinho, afora qualquer aspecto religioso, fez mais pelo fim da brutalização e pela civilização dos homens do que todos os reis, imperadores, filósofos e políticos.

Portanto, em sendo eu um simples mortal, cheio de fraquezas e imperfeições, jamais darei meu voto a favor de matar qualquer ser humano, seja ele o mais condenável dos seres. E darei meu apoio a qualquer projeto de regeneração, reeducação e recivilização do criminoso e, quando isso se revelar impossível, que a sociedade o mantenha segregado, impossibilitado de voltar a praticar o mal.

José Pio Martins, economista, Reitor da Universidade Positivo

Qual é a causa-raiz
Trecho Dialogos
O que é religião
Qual é o melhor caminho
erro e punição

"O saber não ocupa lugar"
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