
Diálogos
Desafiando cinco lições de filosofia
“Filosofia não é a posse da sabedoria, é a sua busca”
RCL: Em uma mentoria ocasional acabei recebendo alguns questionamentos e gostaria da tua opinião sobre as respostas.
Repito abaixo as lições de filosofia que você disse que te encantaram:
Lição 1: - Todos podemos estar equivocados.
Lição 2: - Não se aprende Filosofia. Aprendemos a filosofar!
Lição 3: - Filosofar é questionar as certezas.
Lição 4: - A certeza é a maior inimiga da verdade
Lição 5: - A certeza equivocada é mais perigosa do que a dúvida.
A seguir as dúvidas que tenho:
Lição 1 – Todos podemos estar equivocados.
- Como identificar o meu equívoco? Uma vez que temos por hábito a crítica ao outro. Como fazer para identificar os sinais de necessidade de autocrítica? Como reconhecer quando é a hora de purgar crenças antigas e nocivas para dar lugar a um pensamento/comportamento mais salutar? Posso estar equivocado, mas creio que o auxílio de um mediador se faz necessário aqui.
PHW: Tuas perguntas são muito boas e é possível que a minhas respostas estejam equivocadas, mas como o conhecimento é uma construção em que o erro pode ser um acerto em processo, vamos ver se as ideias abaixo nos levam a um ponto mais próximo das respostas ideais.
Imagine uma pessoa chegar para você e começar a apontar uma dúzia de coisas que você faz, dizendo que não estão certas. Mesmo que estivessem erradas, me parece evidente que você poderia bloquear os ataques com negações verbais ou negações silenciosas. Tal atitude possivelmente te impediria de avaliar as críticas e mesmo que a pessoa tenha razão em pelo menos uma das 12 críticas, você poderia rejeitar todas e isto te impediria de melhorar aquele item em que você está se prejudicando sem perceber.
Assim, antes de criticar alguém, me parece que o ideal é tentar colocar-se no lugar da outra pessoa e tentar fazer perguntas que a ajudem a pensar se o que ela acha certo é a única resposta. Exemplos, dados e metáforas podem ser úteis neste processo. Além disso, mudanças que ocorrem de dentro para fora tem muito mais força do que mudanças impostas ou sugeridas de fora para dentro. Aqui me ocorre a frase de um militar norte-americano no filme Pearl Harbor apontando para os voluntários que fariam parte da força tarefa suicida incumbida de dar uma resposta ao Japão após o ataque a Pearl Harbor. “Não há nada mais forte do que o coração de um voluntário”.
Sobre o mediador eu pergunto: quem teria a competência para redirecionar minha trajetória de vida? Penso que o papel do mediador ou coach é diferente da do técnico de esportes coletivos. Ele ou ela devem ajudar a pensar e não dizer o que pensar.
RCL: Lição 2 - Como se aprende a pensar de uma forma crítica e construtiva, sem cair no campo da autodestruição? Existe uma 'receita de bolo' para iniciantes? Se sim, quais devem ser as orientações para auxiliar alguém a desenvolver a autocrítica positiva?
PHW: Penso que a receita de bolo é calibrar as atitudes a partir dos resultados. Lembro aqui de um empresário que citou uma frase atribuída à milenar sabedoria chinesa: “Se você sempre fizer o que sempre fez, sempre conseguirá o que sempre conseguiu”. Note os dois lados desta frase. Fazer exatamente como sempre foi feito tem garantido o sucesso da rede McDonald’s, pois eles conseguem fazer com que os seus sanduiches saiam iguais em qualquer cidade do mundo. Quem já viajou para o exterior conhece esta realidade e é exatamente por saber o que irão receber que as pessoas vão ao McDonald’s. Por outro lado, se você não está conseguindo o que espera, me parece coerente avaliar caminhos alternativos, pois não é coerente esperar resultados diferentes se mantemos sempre a mesma rotina.
RCL: Lição 3 - Filosofar é questionar as certezas.
Como se deve questionar uma certeza, em especial aquelas que se tornam crenças fundamentais na existência individual? Quem deve fazê-la? Existe um limite para esse questionamento?
PHW: Pelos efeitos. Imagino que possam haver diversas formas de descobrir nossos equívocos, mas o primeiro passo pode ser o de admitir sinceramente a possibilidade de estarmos equivocados. O equívoco pode estar na identificação da oportunidade, na direção escolhida ou na estratégia aplicada. A falta de resultados positivos após longo esforço, a reação dos outros diante das nossas opiniões, o custo em tempo e perda de qualidade de vida ou custos financeiros podem ser indicadores de que podem haver outros meios de se atingir o mesmo objetivo. A sobrevivência do mais apto, aparece como um dos fundamentos da evolução das espécies e pode nos ajudar na reflexão. Se as condições são adversas, que adaptações posso fazer para alcançar meus objetivos de independência, crescimento pessoal e contribuição para o bem geral? Posso salvar vidas indicando exames e receitando remédios ou posso dar aulas e ajudar a criar dezenas ou centenas de empregos e contribuir para a qualidade de vida que salva vidas que se perderiam? Que mudança de direção poderá me levar mais rápido ao meu objetivo original?
RCL: Lição 5 - A certeza equivocada é mais perigosa do que a dúvida.
Todas as certezas devem ser questionadas? Como identificar as certezas equivocadas? Pergunto considerando o fato de que eu posso estar enganado a respeito de muita coisa, se não de tudo.
PHW: Creio que nosso status fundante contém princípios, valores e crenças que já estão consolidados e negá-los podem significar forte desequilíbrio. Por outro lado, é muito importante achar um ponto de equilíbrio entre insistir e desistir. Se Thomas Edison tivesse desistido depois de tantas falhas, a lâmpada elétrica teria sido inventada por outra pessoa. Porém se ele tivesse insistido apenas em variações do mesmo metal, pode ser que não obtivesse obtido êxito. Pode ser que a identificação da oportunidade, definição da direção a seguir e escolha da estratégia possa merecer reavaliação a partir dos efeitos.
Um dos meus chefes me ensinou três palavras que se revelaram muito úteis no planejamento pessoal e organizacional. São elas:
Identidade: – Quem sou? Onde estou?
Direção: Onde quero chegar?
Estratégia: Como chegarei lá?
No singular, servem para o planejamento pessoal e no plural servem para o planejamento organizacional.
RCL: Observação: me soa ser de grande importância a presença de um mediador neste processo, alguém que já tenha aprendido e entendido como se faz o 'bolo'.
Contudo, a escolha deste mediador, se não for criteriosa o bastante, pode ser catastrófica. A partir disso, pergunto: como escolher um mediador, e, principalmente, como evitar um que esteja despreparado?
PHW: Não conheço um teste para avaliação de mediadores, mas os poucos que tive e que eu colocaria nesta categoria sempre enfrentaram minha própria capacidade crítica e venceram o processo por seu comportamento, pela lógica das suas proposições e pelos resultados que geraram na minha vida.
Estão em mim as contribuições que eles fizeram sem saber que estavam fazendo. Acho que nossa prontidão e nossa lógica são os filtros que separam o joio do trigo. Isto, infelizmente, quer dizer que por falta de prontidão, ou seja, de experiência, possamos descartar ideias boas e usar outras não tão boas, mas faz parte do livre-arbítrio e do aprendizado a partir das consequências e que resulta em crescimento pessoal. Repetindo: erro é acerto em processo.